![]() |
![]() |
BAPTISTA CEPELLOS
O POETA DO DRAMA BRASILEIRO
JB ENTREVISTA CEPELLOS trabalho publicado nos jornais da região
cotiense
A ATUALIDADE ECOLÓGICO-POÉTICA O fogoso Séc 19 trouxe à luz dos tempos modernos a possibilidade de várias estéticas se fundirem nos traços sutis da poesia, principalmente quando essa escrita tem cunho socialmente forte. Falando dos interiores da Língua lusa que suporta a Cultura brasileira, o repórter JB deu um giro no tempo para um encontro com o poeta Baptista Cepellos, na velha Acutia carijó. No seu Os Escravos, o grande Castro Alves canta que Na terra o teu fadário / É ser o irmão do escravo que trabalha; pela mesma época, o poeta cotiense Baptista Cepellos escreveu que Depois que tudo se acaba,/ Tudo começa de novo!... Um cantar ousadamente ecológico para a época, apesar do realismo e das teorias de evolução humana em curso. Este é o poeta da boca-de-sertão que o repórter JB provoca fazendo-o baixar para encanto dos espíritos de hoje... JB - Há muita gente enchendo o saco com essa de ecologia. Assim, sem mais nem menos. Qual é a sua interpretação face aos berros ecológicos de alguns políticos e artistas? BC - Tudo tomba, afinal. Da viride floresta, nada mais, nada mais senão escombros, resta! JB - Ai é... BC - E, lá na roça, entre um barulho agreste, a terrível queimada principia... JB - Interessante. Parece-me que você e a floresta são a mesma coisa. Será?... Bom, parece-me que você está olhando tudo como uma prece final, sob a fresca de uma árvore! BC - Aquela triste árvore eleva os galhos secos para a treva, no desamparo de uma Cruz! Diante da religiosidade das últimas palavras, entende-se o vórtice social que levaria Baptista Cepellos a escrever Maria Madalena, uma peça para teatro cujo sucesso carioca o acompanharia, depois, no afago da Morte. O jovem brasileiro de Cotia conheceu a ferocidade social ainda menino, e depois como capitão da guarda, recusando-se a ser um simples religioso: fez-se cristão a pulso, subindo degrau a degrau a escadaria social e psicológica do cotidiano como que à sombra do Grande Arquiteto cósmico; e tão profundo foi esse aprendizado que, cantando A Velha Escola, não escondeu a sua naturalidade romântica: As aves, no seu lânguido estribilho,/ Ensinaram-me tudo. Um autêntico aprendiz do evolucionismo (recordemos A Derrubada e Os Bandeirantes) no feitiço fantástico das coisas vivas - ou, o homem entre o povo sofredor, aquele que se sente escravo pela proximidades dos escravos... JB - Você é um homem que, como escreveu Afonso Schmidt, foi criado na vida singela dos caminhos (...), das casas de taipa e dos carros de boi. Podemos entender, então, que Baptista Cepellos é o homem da Natureza, o defensor da Gaia, o poeta dos simples, o poeta... BC - ...bêbado de verdura!... JB - Ai é... BC - ...Tão verde que a visão de outras cores se perde, e a pedra, o rio, o sol, tudo parece verde, e o nosso coração como que se balança por sobre o verde mar de uma nova esperança! JB - Puxa! Bebo dessa sua poética como se fôra cachaça pura! Coisa brava e pura e boa, sim. Lembra-me algo de Pessoa, de Lorca, de Santo Agostinho e de António, como de Cruz e Sousa ou de Castro Alves, ou ainda, de Solano Trindade. Êta coisa boa! Coisa de sempre...Sua alma é um cântico da Existência, víu. E a espiritualidade que escapa nas entrelinhas vem (atrevo-me a dizer) desse profundo espírito que sabe de tudo e do mal humano. Hum, e por isso você se entende com a simplicidade do povo. É isso, víu. É isso: você sempre cantará o povo. Ou não? BC - En cantarei uma canção veemente, em que viva e palpite a grande alma do povo! JB - Ontem, você viveu a Cotia que era a velha Aldeia Acutia ainda com traços deixados pelos caras da nação Carijó, assim como em Carapicuiba e Embu, embora já a tivessem mudado de lugar. Ah, e ali na que é hoje a Praça da Matriz você gostava de escrever versos na terra. Eh, ao pó retornamos ainda vida... Bom, deixemos o filosofar e vamos aos finalmente... BC - ...?! JB - Não se espante, cara. Coisas de repórter que também já víu muita coisa... Você gostaria de dizer algo às gentes da Cotia? Alguma lembrança... BC - ...achei nada valer, nesta existência nula, capitanear um povo ou cingir a cogula, pois tudo se reduz a uma pleja inglória, na chata insipidez desta vida ilusória! JB - ...?! BC - Mas, como enclausurar o pensamento humano que nos crava no peito a flecha da amargura e é donde nos provém a maior desventura?! Sistemas, religiões, filosofia louca!... O homem, que já cansou em meio da jornada e nada mais espera e nem deseja nada, com grande placidez no semblante e no gesto deve os olhos volver para um ideal modesto, colimando uma luz, que lhe sirva de norte... JB - Agradeço-lhe a gentileza das palavras e, particularmente as últimas, pois tem muita gente à deriva na sua velha Cotia! Talvez agora entendam que a Luz é coisa íntima e que têm de buscar o norte em si mesmos! (entrevista montada com poesia e prosa cepelliana publicamente conhecidas através dos livros editados) |
||
Baptista Cepellos -
o poeta do drama brasileiro por João Barcellos |
||
![]() |
Idealizado por: CRISTINA OKA & AFONSO ROPERTO© |