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Samba de três
Mãos
(Rio de Janeiro, 1999) - Em um dos primeiros encontros do Grupo Granja, o poeta João Barcellos (jb), a física e psicóloga Joane dAlmeida y Piñon (jap) e a artista plástica e poeta Tereza de Oliveira (to), tiveram como um dos prazeres "jogar poeticamente". Em fevereiro de 1995, pelo que li da ata, o grupo passou uma tarde inteira na Granja Viana, bairro chique de Cotia-SP, debaixo da inspiração de tabaco cubano, vinho português de reserva e muito samba e chorinho de Noel e de Pixinguinha. Poduziram, então, o poema Samba de 3 Mãos, que inicia-se com seis versos rimados de JB e continua com outros de Tereza e de Joane, embora esta tenha escrito só a terceira parte (ela mesma diz: "vivo entre bulas físico-químicas, só mesmo com dois poetas eu poderia voltar à literatura").
Quando me debrucei sobre as atas do Grupo Granja (ingressei em 1998 com o écologo Marc Cédron) encontrei uma verdadeira liturgia poético-filosófica. E este Samba de 3 Mãos é isso mesmo:
olhei o beija-flor esquentou em mim um lembrete damor ai ai amor que belo jardim somos nesse ardor (jb)
alto lá com o andor deixem as rezas pra mim diz o pastor faz rodar o tambor e logo um tamborim responde com clamor (to)
fizeram de um grito de dor o cântico do querubim a alegria era de todos o senhor celtas gregos africanos e filhos do condor amarraram os corações e assim o mundo cresceu com um pouco damor (jap)
quebrei os grilhões e o estupor que em mim era imensa dor fez-se doce alvor e era música e era vinho e era jasmim ritmos de muita cor (jb)
a poesia tomou o suor dos corpos e caí em mim oh meu senhor entre meus lábios o sabor da vida qual arlequim rindo ao sol pôr (to)
rindo ao sol pôr como no jardim fantasias de beija-flor ai ai amor o que seria de mim sem teu cálido calor (jb)
Hoje, com a morte de Tereza de Oliveira (Paris, Dez. 1998), só nos reunimos via fax ou via e-mail, aliás, o João Barcellos coligiu uma coletânea de poesias do Grupo Granja trocadas entre os membros dessa maneira. Samba de 3 Mãos é um exemplo da Cultura viva que não conhece fronteiras. (Mário Castro - jornalista)
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