OPINIÃO

 

Por João Barcellos

 

Questionando Cotia

 

 

Conversando com um velho e respeitado cotiano, no Cotolengo, enquanto eram diplomados os Agentes Comunitários de Saúde, veio a lume o fracassado "ato público de apoio ao Hospital de Cotia". E, aí, entrou a questão: se o Hospital de Cotia (unidade filantrôpica de altíssimo interesse público, embora sendo entidade privada) não tem nem obtém apóio dos cidadãos que dele se servem; se o Legislativo municipal tem gastos de cerca de meio milhão de reais por mês (e até hoje ninguém explicitou como e em quê...); se o Executivo está com obras paralisadas ou a "meio gás" e paga salários com atraso ao Funcionalismo Público... pois bem, algo está errado em Cotia.

 

Antes de mais, quero esclarecer mais uma vez, publicamente!, que o discurso editorial é, e deve ser sempre, uma porta aberta à conversa em prol da crítica construtiva. Por isso, não apareça nenhum(a) idiota afirmando que está sendo ofendido!

 

E vamos à vaca antes que ela fuja pro brejo, ou dê em tossir por aí... A par das dificuldades de governar uma região tão vasta como Cotia (e o Executivo tem de preocupar-se, mesmo, em profissionalizar os serviços nas regionais de Caucaia do Alto e de Granja Viana, que continuam simplesmente politizadas), a Administração Mário Ribeiro tem a seu favor estruturas urbanas de atendimento que remontam ao primeiro mandato, e obras gerais no segundo, estando todo o peso administrativo focalizado socialmente nas ações mistas (porque conseguidas com a Iniciativa Privada, no desafio político e correto do assessor Luis Antônio Sampaio Filho) da Saúde, como na Segurança Pública (e é bom refletir sobre a importância cada vez maior da Guarda Municipal...), enquanto que a Cultura continua sem vez, a Educação é hoje um pólo municipalizado sem reflexos positivos quer no aspecto didático-pedagógico quer no estrutural, e a Assistência Social briga por existir, de fato.

 

O que isto tem a ver com o Hospital de Cotia? Tudo. Pode-se não gostar da administração que gerencia o HC, como pode-se não gostar do prefeito Mário Ribeiro ou da Vereança, mas o fato é que o HC é a maior infraestrutura de filantropia hospitalar da América do Sul, está em Cotia, e o dever de cada cidadão é encontrar soluções econômicas, sociais e políticas, para evitar o colapso dessa unidade, em vez da enfadonha e cada vez mais cretina discussão pública sobre quem é que manda politicamente na região... A sociedade está farta do coronelismo, farta de pagar impostos e não ter a Cidadania resolvida nos campos da Saúde, da Segurança e da Educação. A questão, embora muito focalizada no Município de São Paulo, é geral, no Brasil, com particularidades melindrosas na Grande São Paulo.

 

Estando o Executivo com problemas financeiros, pelo que se ouve na praça e entre alguns políticos, e o Legislativo gastando um fortuna sem gerar recursos para Cotia, por que as lideranças locais (de todos os segmentos de atividade) não discutem um acordo que leve ao enxugamento do Serviço Público Municipal, de forma a que o Servidor de fato seja bem remunerado e se concretizem políticas de incentivo na Segurança, na Educação, na Saúde, na Cultura e na Assistência Social - mais: nesta reengenharia administrativa sobraria, por certo, uma ponta de apoio ao Hospital de Cotia (verificadas, é claro, as questões administrativas dessa unidade)! Pois, analisando-se os gastos das municipalidades vizinhas chegaremos a uma triste conclusão: os políticos de Cotia gastam de mais... É um Poder Público inflacionado politico-eleitoralmente.

 

Eis que, nesta ótica, o fracasso de uma unidade de assistência tão popular como o HC, cujas instalações impressionam qualquer um(a), é também o fracasso dos políticos e dos outros cidadãos de Cotia!

 

Hoje, na Administração Mário Ribeiro, existem sinais de compromisso com a Cidadania nos casos do Cefor, da Casa do Autista (já em fase final de projeto no âmbito do Cefor) e nas estruturas da própria Assessoria de Saúde, que já desafia a própria política ao levar os seus serviços ao nível da solidariedade comunitária; e fez-se, até e finalmente, acordo com o Governo estadual no sentido da construção do Terminal Rodoviário... mas, são casos circunstanciais, falta ainda a ousadia do Legislativo na prestação pública de suas contas e da unidade cotiana em torno da sua infraestrutura mais fantástica: o Hospital de Cotia.

 

Alguns empresários já clamam por uma nova ordem política em Cotia, e não é para menos! O pólo industrial sediado na Granja Viana é responsável por mais de 60% dos dinheiros que entram nos cofres da Prefeitura Municipal, por isso, eles têm todo o direito de questionar a falta de infraestrutura urbana e cultural, o colapso do HC, os gastos com e da Vereança. Realmente, o retorno do Poder Público face à arrecadação gerada na Iniciativa Privada é simplesmente precário!

 

Esclareço você, (e)Leitor(a), que a Câmara Municipal recebe mensalmente o que a Constituição ordena; o que não significa que a Vereança se obrigue a gastar tudo, com funcionalismo ou não. O que se pode dizer, e também o digo com todas as letras (pois, faço parte do coro que paga impostos), é que um outro tipo de gerenciamento financeiro no Legislativo poderia devolver cerca de 35% daquela verba de aproximandamente meio milhão de reais... Por isto, questiona-se por que não reunem as lideranças a mudam tal quadro? Quem tem mêdo de quem em Cotia? Eis o desafio... (João Barcellos - escritor e consultor cultural; membro da Associação Nacional de Escritores, editor do jornal internacional O Serigráfico, do Grupo Granja e editor cultural de Gazeta de Cotia)