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... entre The Devils Advocate e Matrix estamos plug@dos de alguma maneira!
por João Barcellos
Mens Agitat Molem (A Mente Move A Massa) - Virgílio (in Eneida, VI, 727)
Quando escrevi o texto O Cinema E Os Nossos Sinais, para uma conferência, lembrei-me da questão ética do filme The Devils Advocate (O Advogado do Diabo), de Taylor Hackford, no qual o ator Al Pacino é o ente diabólico que leva um advogado para as entranhas da anti-Ética... este, aliás, um dos melhores que assisti na minha carreira de 25 anos como cinéfilo-crítico (e, circunstancialmente, cineasta de curtas pedagógicas)! Como afirmo no texto, a Cinematografia tem tudo a ver com o nosso Pensamento, com aquilo que somos ou acreditamos ser, ética e profissionalmente. E o final do Séc. 20, além daquele filme de Hackford, traz-nos outra surpresa deliciosa (pela profundidade filosófica a que nos remete no seu conjunto lítero-cinematográfico e estético): o filme Matrix (Matriz), de Larry e Andy Wachowski, com o ator Keanu Reeves interpretando o Ser que é Estando ciberneticamente... É incontestável... Desde que a Civilização Ocidental, basicamente enquadrada pelo Catolicismo centralizado no Vaticano, tornou-se a "gaiola ética" que nos asfixia, vivemos sob a selvajeria ideológica cuja "ética" desconhece a maioria que faz da Humanidade uma tribo de animais razoavelmente racionais. Após o advento do Iluminismo e da Revolução Industrial (esta, iniciada na Inglaterra com os ouros do Brasil levados pelos portugueses através do Rio Prata) estamos hoje situados na Era Digital, que nos faz questionar se existimos ou somos simples imagens provocadas - eis, aqui, a questão de Matrix, o filme. Sabemos que o Ser Humano, e Jean-Jacques Rosseau já nos alertava na sua Obra filosófica, é bom por natureza - mas, é facilmente corrompido pela "coisa" institucional... Se em The Devils Advocate é posto em cheque o que ambém o nobel Saramago já havia alertado no romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo (ou seja: entre o Bem e o Mal quem somos nós, Humanos?), em Matrix estamos diante da mesma questão embora que sob conceitos bem mais violentos: que Destino nos comanda? De tão dogmáticas que são as Religiões, por exemplo, não respondem. E, existindo outros povos em outros planetas, seremos nós organismos ciberneticamente existenciais para a (sobre)vida desses povos? Ou não?, somos somente espectros de nós mesmos... A obra cinematográfica Matrix é um amplo campo de e para especulação filosófica, especulação tão violenta que fere as nossas entranhas ocidentalmente tão "certinhas". O que, aliás, e neste caso específico da Ecologia Humana, também verifica-se na Sociedade Oriental - de onde, não esqueçamos, vem toda a força esquelética do Ocidente depois de absorver a Cultura africana! Em seus filmes pedagógico-culturais, Norman Mclaren insinuava(-nos) a imponderabilidade física que somos em relação ao(s) universo(s) que nos cerca(m). Ora, a irredutabilidade do "pensar quadrado" tão defendido pelos dogmáticos que sustenta(va)m a Sociedade Ocidental e a Oriental esbarrava, como esbarra, precisamente no Pensamento Criativo que gera a Arte participativa, questionadora. Os Wachowski trazem-nos também essa inquietude (auto)crítica em Matrix no momento em que a era digital já assegura a cópia animal e humana, segundo matrizes próprias... ou não! O que existe entre o Computador e o Tecido Orgânico que somos? Podemos ser copiados (ou "clonados"), é certo. Dentro de algum tempo viveremos como um "software" (programa) adequado para um determinado "hardware" (máquina) servindo interesses onde o único valor ético é Ser-Estar-Poder. As respostas que a Religião não sabe (e por isso não pode) dar à Humanidade são óbvias cientificamente desde o Iluminismo e, hoje, na Era Digital, mais incômodas ainda! No antigo Egito os faraós queriam ou pensavam ter este Poder, tanto que as cirurgias no cêrebro tiveram então grande importância científico-religiosa; Hitler também o quis e iniciou mesmo pesquisas para a cópia de si-mesmo; hoje, os judeus fazem o mesmo e já têm a arma que pode alterar biologicamente milhões de árabes - exatamente o que os nazis tanto buscaram para dominar a Humanidade por mil anos; e, no Vaticano, os papas e os seus bispos burocratas tentam esconder a Realidade Existencialmente Virtual com as costumeiras e "pastorais" trapaças... Os celtas e os gregos tinham razão: vivemos um mundo cósmico sem sabermos o que somos. Por isto, Deus pode muito bem ser uma "matrix" de Computador. Ou não? Para um an@rquista o filme Matrix revela a gaiola institucional que ele combate, mas, também, que pode estar na Era Digital o fim do Estado institucionalmente soberano, embora ninguém (mesmo virtualmente plug@do) seja livre... E se "a propriedade é um roubo", como dizia P. J. Proudhon, quem entra numa rede digital com a missão (própria ou não) de desgovernar a "coisa" institucional sabe muito bem que na Era Digital não existe o conceito de Nação/Pátria, sim, o Poder das informações enquando banco de dados - e, que nem um Hacker atua como um an@rca virtualmente livre, pois, até ele possui um sistema de auto-vigilância! Tratando de Matrix como filme, eis-nos diante do Ser loucamente dominado pelo universo "on-line" e, por isso, "desplug@do" do Ser-em-si... Um dia, esse Hacker (q.s. Machado) - na verdade um "cortador" que, zoando nas redes de computadores, oficiais e privadas, provoca rombos financeiros, políticos e sociais, somente copia pogramas para o "mercado negro"... - descobre que a sua "vida" pode ser um desdobramento matricial gerado por um computador, e ele (o ator Keanu Reeves), que já utiliza o codinome "neo", participa a partir daí com dois outros espectros (interpretados por Carrie-Anne Moss e Laurence Fishburne) de uma odisséia ciber-robôtica. Entre os belos efeitos especiais e as hollywoodescas artes marciais o que vale mesmo em Matrix é a sinalética estético-filosófica embasada nas coordenadas (ainda humanas...?) físico-químicas do Ser que somos, com maior ou menor carga eletromagnética para o Bem ou para o Mal. O filme só preocupa pelo excesso da violência gratuitamente mercantil - de resto, Matrix é uma boa oportunidade para uma leitura sobre a Era Digital da qual já dependemos. Larry e Andy Wachowski conseguiram mostrar na Cinematografia mais uma carga da cotidianeidade sermiótica que nos cerca. Entre The Devils Advocate e Matrix, dois filmes fantásticos pelo enfoque Cultural e Ético que propõem, nós somos o Delírio: pensamos que Existimos! E só os poetas sabem o que isto significa, principalmente quando o Amor substitui a falta do Sentimento nas linhas digitalmente robôticas - isto é: de alguma maneira estamos plug@dos com a Paixão de sermos de "algo"! (João Barcellos)
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