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Grupo Granja

Pensamentos de Tereza de Oliveira e de Joane d'Almeida y Piñon sobre O Peregrino

 

Em um tempo de preciosidades intelectuais, como aquele livro "Poesia e Seis Contos Dum Baralho Só", a primeira manifestação de João Barcellos na praça literária do Brasil, e logo as poesias publicadas no Caderno Oficina Poesia, do Rio, na Antologia de Poetas e Escritores Brasileiros, de Brasília, e no Brasil Poético, de Londrina, e já Estórias Poéticas saía na praça carioca pela mão do professor e poeta Francisco Igreja... Na verdade, nesse tempo eu reunia (o melhor termo é mesmo, conversava) com João Barcellos, escritor português que conheci após uma palestra sua na Universidade Federal de Santa Catarina, sobre Pessoa e Machado; eu e a querida cientista e psicóloga Joane d'Almeida y Piñon, tão galega quanto eu (ela de Tuy e eu de Vigo). Os Anos 90 abriam o Terceiro Milênio. Entre o verde e os condomínios calmos de Granja Viana, um bairro na periferia de São Paulo, encontrámo-nos pela primeira vez depois da palestra de João Barcellos, sobre a práxis poética e os poetas, na Pontifícia Universidade Católica paulista. Acendemos a lareira, fazia frio, e bebemos Vinho do Porto...

... "sutil,

ah quão sutil é o brusco

descobrir outrém, brusco

sibilando aí"

terminou Joane de ler o poema "pessoas", publicado em Brasil Poético, coletânea paranaense que incluía seis poemas de João. Foi o nosso primeiro encontro de conversas. "Não sei a quantos espíritos o João dá guarida, mas este 'brusco sibilando aí' é de uma amplidão espectral fantástica...", opinou ela sobre o poema. Logo ela, uma física dedicada à experimentação com partículas elementares... "Nós colhemos o que fomos, e hoje fermentamos o amanhã - ora, meninas!, nós somos poesia, somos deus enquanto soubermos alimentar o espírito que nos diz sê-o-que-és!", argumentou o escritor acendendo o cachimbo.

Eu tenho escrito poesia que muitos acham "boa poesia". Trabalhos que não publico. É algo meu que os amigos podem ler. Só os amigos. É uma poesia que me vem como força formidável, algo assim "brusco sibilando aí"... mas, com espanto, em menos de uma hora, entre nossas conversas, goles de Porto vintage e calmas cachimbadas de tabaco irlandês, reparei (reparamos) que ele havia rascunhado (só mais tarde percebi que o rascunho, em João Barcellos, é o texto definitivo) alguns poemas - lindos poemas na forma e no conteúdo naturalmente espiritual.

Até a cientista, sempre longe da escrita, aventurou-se a escrever uma curta análise sobre aqueles poemas e apresentá-la no próximo encontro. Só a sensibilidade e o desprendimento de um Ser espiritual como João Barcellos poderia, sem que o manifestasse, levar uma técnica de laboratório para um compromisso informal com a Literatura!

Assim formamos, informalmente, o mui restrito Grupo Granja.

Tanto eu como Joane não pudemos estar presentes nas palestras que João proferíu, em vários locais de São Paulo, subordinadas ao tema "O Peregrino - a cósmica essência da poesia". Só um ano depois, em 1996, voltamos a nos encontrar, desta vez em casa de Joane, também na Granja Viana. Na realidade, desde 1991, estas casas funcionaram só como "sedes" de nossos encontros, porque ambas viajamos muito, eu por museus e hotéis e ela por laboratórios. Eu tinha ido visitar meus familiares na Galiza (lá em Vigo, Espanha) e dei um pulo até à cidade do Porto utilizando o trem internacional: tinha-me determinado a conseguir um néctar diferente para o próximo encontro do Grupo Granja. Achei: dez garrafas de Alvarinho, do Alto Minho, ano 1980, aquela casta grega de Vinho Verde que o poeta adora.

Se a minha querida física já mostrava inclinações outras em função da "Poética JB" - assim denomino a arte de João Barcellos -, bebendo Alvarinho ao som da castiça e minho-galaica palavra que nos dizia "O Peregrino", então ficou prostrada: "Quem disse que somos só matéria? Evoé poeta, evoé!" exclamou ela.

E não era para menos. "O Peregrino" não é um texto, é um rito espiritual de múltiplas vivências. Quando li os poemas que ele dedicou a Torga e a Hemingway, no livro "Poesia e Seis Contos Dum Baralho Só", publicado em São Paulo, tive a certeza de estar diante de um Poeta e de uma Poética oriundos da Liberdade pura. O poema "Guerreiro Espiritual", publicado no Rio de Janeiro, anos depois, só confirmou o que eu e Joane sentimos.

Depois de mais esse encontro do Grupo Granja (e só me permito escrever isto, com o apoio e a opinião de Joane, porque isto é uma homenagem-registro), eu viajei para Viena com passagem por Paris, e ela ficou absorvida com pesquisas na Cidade do México e no Rio de Janeiro, além de aulas particulares em São Paulo. Neste meio tempo, Joane ficou com a "alma lavada", como eu: tomamos conhecimento da palestra "Mário Schenberg - o Ser que sabia Estar", que ele proferíu antes do natal, em Cotia, e pôs na Internet. "Vou preparar uma palestra, a segunda parte d'O Peregrino, com o tema 'do Oráculo céltico e a Eternidade à luz do Espiritismo', uma necessidade minha", li, na primeira página que saía do fax do hotel, em Paris; nas duas seguintes, o resumo do trabalho. "Já conversei com a Joane sobre o assunto. Ah, sabes que ela escreveu dois textos? Um sobre os meu artigos n'O Serigráfico e outro sobre a palestra que fiz acerca do Schenberg. Um deles foi até publicado no jornalzinho da Granja Viana. Hum, tem algo sibilando aí...", informa ele, brincando.

Estamos já em 1998. Leio, a caminho de Lyon, o texto completo da segunda parte de "O Peregrino". Sei que Joane já leu. Ligo para o Rio, onde está durante algumas semanas: "Ele toca em nós, no mais fundo da alma. Em tudo que faço como cientista tenho agora, depois que conheci a Poética JB (como você diz, Tereza), a percepção do algo-além-do-eu, como naquele poema, lembra?, sibilando aí...", ouço como resposta à pergunta "Você já leu a nova palestra do poeta?" E continua: "Por causa dele estou quase virando escritora. Ôba! Escrevi uma análise sobre os artigos O Mundo Da Cor e opinei acerca da palestra Mário Schenberg. Mas esta segunda parte de O Peregrino é um êxtase espiritual. Olhe, Tereza, sei que vai escrever acerca desse texto, então, ponha nele esta minha opinião e envie para o poeta, pois, vai demorar um pouco até que o Grupo Granja se encontre novamente."

As conversas do Grupo Granja amadureceram os três membros, mas a Poética JB ganhou muito mais amplidão na sua expressão inteletual.

E em relação à segunda parte de "O Peregrino" só tenho vontade de cantar: Evoé poeta, evoé! Por que você é morada divina e mora em nós pela transmigração natural dos espíritos que têm o Amor e a Paz como caminho de peregrinação.

É o que aqui vai, neste fax que envio (enviamos, que a Joane também assina) de Viena, Áustria, porque o Grupo Granja é uno na universalidade do Pensamento que Espírito é!

 

Tereza de Oliveira, poeta e crítica de arte
Joane d'Almeida y Piñon, física e psicóloga