Educar
é ser e estar em progresso  

por
João Barcellos 

 

 

A PALAVRA COMO PRÁXIS DIDÁTICA

 

A tensão própria e específica

do ato pedagógico (...) envolve

a descoberta e a identificação

da Palavra.

MANUEL REIS, in "Não Apaguem As Luzes"

 

A urgência é um mal que atrapalha o Professorado quando tenta superar o habitat instintivo da Criança no instante em que ela dá os primeiros passos, ou sons organizados, na Alfabetização. Em outros contextos técnicos, isto se passa também: quando se alfabetiza o Adulto, ou quando se orienta pessoas portadoras de deficiência.

É preciso preparar a Criança para ser Adolescente e aí ganhar as asas de Adulto, como é preciso transformar a Ignorância do Adulto em instrumento de aprendizagem. Eis a Tensão do Ato Pedagógico: o sublime instante pelo qual quem orienta transforma-se em Mestre da Vida.

Mas, como "trabalhar" essa tensão?

O mestre português Manuel Reis, em seu estudo Questionando o Novo Paradigma Epistemológico, Muito Especialmente a Superação da Distinção entre "Ciências Naturais" e "Ciências Sociais", op. cit., demonstra que a "...perspectiva exigente do conhecimento moderno não dissolveu nem atenuou a verdadeira e autêntica atitude pedagógica". Ou seja: a Vida vem sendo valorizada pelo mercantilismo do Simbolo em detrimento da Palavra, a Humanidade virou boneco articulado na estrutura mercadológica que faz da Escola um armazém de "instrução" -, uma Escola onda a Cultura é banida. Quando se fala de Tensão Pedagógica fala-se, e não é a primeira vez que o escrevo em minhas crônicas sobre Educação, de Ética Docente. Ora, só é Mestre quem sabe orientar (a Criança ou o Adulto) tendo a Palavra como práxis didática: a Humanidade aprendendo e crescendo em Humanismo!

Trabalhar a Alfabetização, que é um trabalho de Comunidade, requere pessoas fortes cuja Inteligência esteja atenta a um valor fundamental, descrito por Antoine Fabre D'Olivet (1767-1825): "...nada na natureza elementar se forma nem imediatamente nem de uma só vez; tudo nela vem de um principio cujos desenvolvimentos (...) têm seu começo, meio e fim" (in História Filosófica Do Gênero Humano). E a Palavra é tudo isso: sede e morada do Ser, como diz/alerta Manuel Reis. Mais ainda: a Palavra é ferramenta que bem utilizada nos leva ao Conhecimento da múltipla Linguagem de que somos capazes. Alfabetizar é permitir que outros aprendam a usar a Palavra em seus próprios ritmos, social e psicológico, para assimilarem a Cultura que os cerca, absorvê-la e modificá-la a bem da Humanidade.

Um bom Mestre faz desta Tensão Pedagógica o seu mais doce desafio.

 

Ecologia Na Escola

 

Sim, êta coisinha difícil de entender... Fala-se de Ecologia e logo escuta-se que a Rede Escolar não tem condições, não tem professores treinados, não tem meios, não tem... Enfim, uma enxurrada de desculpas para que a Escola continue sendo um "museu de cérebros" e não uma oficina de aprendizado!

Em um país continental como o Brasil, que tem na Amazônia o maior Banco Genêtico da Terra, poucos são os educadores que se interessam pela Bio-Massa, essa Energia Renovável (carro movido a álcool é isso...), pela raiz energética que nos é Vida. Na maioia dos casos, Ecologia significa reciclar latinha de refrigerante para a própria Indústria na troca de um bem de consumo tipo TV + Vídeo!...

Ora, é preciso Educação Ecológica!

É preciso introduzir a vivência da Vida no Ensino!

A ação governamental de não apoiar a Escola Rural em municípios de tradição campesina vem atirando a Juventude Rural para um ciclo de analfabetismo que só interessa aos políticos formados no caciquismo psicopata. E, na Rede Escolar urbana só se fala de "produção, produção, produção..." contra o vero conhecimento dos Recursos Naturais que fazem do Brasil a maior Potência Energética. Neste quadro anti-Brasil as instituições de Educação e Cultura estão produzindo um Povo que se alheia de si mesmo e da noção de Pátria. Infelizmente... Fora deste quadro, gente com experiência ecológica vem organizando bolsões de Ensino Ecológico. Principalmente em São Paulo. Locais com horta, pomar, oficianas, animais, lagos, que servem de aula-ar-livre e de recreio para os jovens - particularmente os urbanos que não sabem nem o que é galinha...! - que encantam-se com esse maravilhoso mundo da Natureza. Talvez esta práxis ecológico-cultural possa desfazer o Equívoco Mental em que operam os dirigentes das instituições oficiais de Educação e Cultura. Talvez...

 

Discurso Cretino Sobre Educação

 

Educar, educar, educar, é preciso Educação para os brasileiros!, gritam as élites políticas com a cara de pau de quem sabe que o segredo é enganar o Povo. E para melhor desenvolvimento desse discurso cretino sobre educação oferecem Tecnologia informatizada para a garotada sedenta do Saber embasado na T.O. (Tese Obsoleta). É o que interessa. E o Professorado? Não interessa educar, em contínuidade técnico-pedagógica, quem serve de meio entre a Tradição cultural e o Moderno aprendizado das primeiras letras? Ora, onde estão os núcleos de abordagem temporária (reciclagem e não encontros de conversa fiada) que o Ensino Municipalizado deveria fazer com o Professorado?, e os Cursos de Reciclagem?, e a Pontuação dos cursos técnicos especializados que parte do Professorado faz por conta própria mas que as Secretarias Municipais não anexam?... Eis aqui a tradução simultânea do discurso cretino sobre educação das élites políticas do Brasil.

Com o Sistema Universitário apodrecendo, um Segundo Grau sustentado por um Professorado em parte despreparado, e um Ensino Básico entregue à politicagem do eleitoralismo municipal, a T.O. das élites é isso mesmo: não interessa Educação. A interessar, o Professorado que está no Interior receberia um apoio mínimo e terminaria pelo menos o Curso de Magistério! A aquisição de Informática para a rede escolar é um gesto bonito, mas a Educação não está no Computador (ele é um complemento técnico, uma ferramenta), a Educação está no Pensamento criativo do Educador que faz do Computador um meio pedagógico.

É interessante notar, e anotar, que esta T.O. não é brasileira, é um veículo ideológico norte-americano adotado pelos países latino-americanos (como se prova pela ênfase dada à Educação no encontro sobre a ALCA, que aconteceu em Abril de 1998). É de se lamentar que um país de dimensões continentais como Brasil ainda tenha de ajoelhar-se aos caprichos da política expansionista do Uncle Sam.

Com o evento "Brasil- 500 Anos" o país vive mais uma gritaria nos orgãos da comunicação social com base na T.O. sobre a Educação. Por que não querem que o Brasil descubra o Brasil?

 

Municipalização do Ensino

analisando o Brasil através de Cotia

 

Do mesmo modo que Veiga Simão, no início dos Anos 70, em Portugal, propôs levar ávante o eixo Ensino Técnico/Produção Industrial, e tendo isso como abertura sociopolítica da Instrução sob as benções do salazarismo fascizante continuado por Marcelo Caetano, também no Brasil dos Anos 90 os tecnocratas tentam exatamente o mesmo.

O problema é: o que fazer com Diploma de 1° e/ou 2° Grau que não dá acesso ao tão prometido Emprego?! Paralelamente, tal como em Portugal discute-se a formação de Conselhos Locais de Educação (CLE’s) com ampla participação de intelectuais e dos sindicatos do Professorado, aqui no Brasil a Municipalização do Ensino é o ponto da não-discussão. Infelizmente...

Observar criticamente a Municipalização do Ensino num região como Cotia, município da Grande São Paulo, com cerca de 120.000 habitantes, uma área imp[ortante de produção de hortifrutigranjeiros e outra industrial, de médio porte, uma rede escolar (estadual, municipal e particular) com cerca de 100 unidades, mas sem Ensino Técnico Industrial-Comercial, é ter um micro quadro da falência nacional que embasa a Instrução no Brasil. Mas, por que falo em "falência"? Existe quem confunda Regionalização sob tutela nacional com Desenvolvimento Local Sustentado, o que não pode acontecer. Vamos ao exemplo: ao assumir a Municipalização do Ensino a região de Cotia não assumiu o Desenvolvimento Local Sustentado no âmbito da Educação, sim, o gerenciamento das disposições do Ministério da Educação que regionalizam (e subsidiam) a rede local de escolas. Nada mais do que isto!...

O que Cotia ganha com este gasto político-administrativo? Verbas para Merenda Escolar, para Adaptação e/ou Construção de Unidades Escolares, e talvez algum Apoio Didático-Pedagógico. Muito bem. Desde que a Municipalização do Ensino foi adotada em Cotia, a imprensa vem recebendo (e esperamos que o Executivo e o Legislativo demonstrem o contrário, pois, é para isso que Imprensa existe!) denúncias de superfaturamento com construtora (a Erre Ltda) que nem engenheiro responsável tem - como é o caso de uma EMEI no Jd. Panorama com duas salas (área de 192,64 m2 na qual incluem indevidamente o páteo, i.e., + 140 m2) pelo preço de R$153.693,04, e isto tem quer ter no mínimo a responsabilidade da Assessoria Municipal da Educação, que assina juntamente com o Prefeito e deve(rá) ter o aval da Comissão de Educação da Câmara Municipal. Por outro lado, outras denúncias (mais uma vez: esperamos que o Governo Municipal e a tal Comissão de Educação expliquem a situação) têm a ver com a Merenda Escolar, ítem também sob assinatura de Teresa Acetuno (da Assessoria de Educação). Cotia até que ganharia muito com outro tipo de assessores que soubessem administrar ajudando o Prefeito. O fato é que o coração de uma boa Administração Municipal passa pela Educação/Cultura, e Mário Ribeiro sabe isso muito bem. E também sabe que embora o salário médio do Professorado Municipal seja baixo, uma das compensações está na Reciclagem didático-pedagógica do Professorado a todos os níveis, incluindo o Professorado direcionado para o Ensino Especial, pois, este, e veja-se o caso da APAE, não tem tido direito a cursos/palestras técnicas sob patrocínio da Municipalidade. A propósito, Teresa Acetuno celebrou um acordo entre a Prefeitura e a APAE, ou estamos enganados?... Esta questão administrativa é levada tão pouco a sério que esquecem que o Prefeito tem 15 dias para responder a um Requerimento, mesmo que através da Assessoria de Educação... Isto não se passa só em Cotia, o noticiário nacional tem oferecido diariamente um leque de opções para análise - mas, nós estamos em Cotia!

Diante deste quadro perspectiva-se facilmente o que é gerenciar localmente benefícios federais e/ou estaduais, ou seja, até agora a Municipalização do Ensino não é mais do que um ato administrativo no qual o Professorado e os seus orgãos de classe não têm chance de opinar com alternativas. O outro problema deste ato administrativo, voltado para a Instrução e não para a Educação local e culturalmente assumida, é o seguinte: a facilidade com que os políticos transformam escolas em palanques eleitorais e professores em cabos eleitorais!

Agora, além do conceito administrativo de Instrução temos as tendências mercadológicas da Instrução, i.e., "bota-se" uma linha de microcomputadores numa unidade escolar, sem preparação didático-pedagógica prévia do Professorado, e diz-se: estamos globalizados! Ora, sem treinamento especializado (Informática + Pedagogia direcionada) o que temos? Professores brincando de videogame instrutivo (não educativo) e compartilhando isso com a população infanto-juvenil. Brincadeira... Que futuro se pretende para o Brasil?!

Quer na Espanha quer em Portugal, e até aqui na vizinha Argentina, entre os Anos 1970-75, o Ensino Fundamental e Profissionalizante tinha o mesmo tratamento administrativo, até que o Professorado passou a ser consultado. No Brasil, não. Não se trata de desenvolver localmente o Ensino, mas sim de eternizar o conceito besta e fascista pelo qual a Escola-construção é mais importante do que o Professor e o Aluno... Claro, dirá o vereador esperto: dá lucro!...

Teoria da Dependência & Educação

A desgraça da América Latina... O que é a Teoria da Dependência? E o que isto tem a ver com a Educação? Antes de mais, é bom esclarecer que a Teoria da Dependência não foi exatamente criada e desenvolvida na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - vulgo Cepal, como alguns analistas (estupificados ou "bem" orientados) escrevem na Imprensa engajada: depois que foi criado o conceito de "moeda internacional" e o dolar absorveu-o, as escolas econômicas norte-americanas, e principalmente a de Chicago!, orientaram o mundo capitalista para atuar segundo tendências especificamente projetadas na valorização daquele conceito - isto é, todos os mercados economicamente viáveis deveriam estar subjugados àquilo que é considerado o Consenso de Washington - a capital dos interesses de hegemonia social, econômica e militar. Quando foram criados institutos do tipo Cepal a carta de ação já estava bem escrita: orientar os países ricos em matérias-primas para ficarem subjugados culturalmente àquele conceito e àquelas tendências. É o caso do Brasil.

Quase todos os dirigentes políticos - e a Trupe FHC vem daí - passaram pelo esquema de orientação cepalista levando o Brasil a convergir para o Consenso de Washington. Isolar o Poder das pretenções do Povo é uma das tendências: daí resultou Brasília. A capital construida com os dinheiros retirados da Educação e da Previdência e muita corrupção... A segunda grande herança da Teoria da Dependência que os brasileiros vêm pagando, que a primeira foi a In-Dependência sob tutela da Inglaterra!

Quando se fala de Educação, em regiões como a América Latina e o Caribe (ah, como os norte-americanos e os europeus definem bem as áreas estratégicas de dominação militar e econômica...), precisamos pensar no quadro histórico do seu desenvolvimento dependente. Analise-se este título: "Para Cepal, educação não garante renda". Assim mesmo. É a opinião dos diretores desse instituto divulgada no jornal O Estado de S. Paulo (6.Nov.98). E eles dizem que "O nível mínimo necessário para ter condições de disputar um lugar no mercado de trabalho só é alcançado por um terço da população urbana e um décimo da rural". Esquecem de dizer que esta triste situação é uma herança sociológicamente mercantil das tendências aplicadas pela própria Cepal no Brasil e no contimente... Veja-se, a Trupe FHC retira verbas da Saúde e da Educação para cobrir gastos orçamentais da União dizendo, paralelamente, que está investindo socialmente. Ah. ah, ah, que piada!

Não querem desenvolver a Educação na região, e mais especificamente no Brasil, porque este país é em si um continente que pode tornar-se um Poder pelas reservas de matérias-primas que possui. Isto é, deixar que a Educação cresça entre os brasileiros é deixar que um Poder emergente torne-se até Poder hegemônico na América do Sul. É preciso dizer mais?...

 

ENSINO ESPECIAL

 

Alguns pais olham para os filhos menores e acham dificuldades no seu desenvolvimento motor e mental - mas acham, também, que isso pode ser superado pondo-as em sala de aula no Ensino normal. Os proprietários das escolas do Ensino Privado, na maioria, só se interessam pelo lucro empresarial e aceitam estas crianças e jovens com alguma deficiência motora e/ou mental no âmbito desse egoismo mercantil, embora conhecem os altos riscos de lesa-humanidade a que se propõem!

Em vários artigos, quer em jornais e revistas do Brasil, quer da Irlanda, de Portugal, da Espanha, da Argentina, do Reino Unido e dos EUA, venho discutindo este assunto. E tudo isto porque, nos Anos 70, inseri-me na batalha pioneira que deu origem a várias instituições particulares de Ensino Especial. E se nos países da Europa e da América do Norte são observadas regras fundamentais de atendimento psico-pedagógico às crianças e jovens com deficiência motora e/ou mental, o mesmo não acontece no Brasil... primeiro, porque (recordo que existem excepções) os tais donos de escolas privadas recebem os pais dessas crianças e os iludem com promessas de "sociabilização em sala d’aula", o que só é possível (quando é possível!) após um longo preparo em instituições de Ensino Especial (do tipo APAE e CERCI), segundo, porque os Cursos brasileiros de Magistério não especializam pedagogicamente (como na Europa e EUA) - são, por enquanto, cursinhos formando "tias" e "tios" para as redes públicas (recordo uma longa conversa que tive com os professores Magnus e Hoyler sobre o caso). Na verdade, um absurdo social que começa a ser combatido oficialmente... E aqueles pais, anos mais tarde, ao verificarem que seus filhos não se desenvolveram com a tal "sociabilização em sala d’aula" têm só uma saída: a chorar sobre a própria alma. É que só nesse instante entendem que fora de instituições como a APAE, ou similares, é possível determinar a possibilidade de alguma recuperação, nunca sujeitando os filhos a uma atividade escolar curricular! Existe, sim, um terceiro ponto em discussão: na maioria dos casos ( e é isto que já está sendo revisto a nível do MEC), mesmo em instituições como a APAE e em cargos públicos municipais e estaduais, os responsáveis pelo atendimento psico-pedagógico a crianças com deficiência motora e /ou mental são "especializados em pôrra nenhuma" (com o perdão da palavra) o que é um atentado à saúde pública e ao direitos de os legítimos profissionais exercerem livremente as suas funções!

É claro que os pais socialmente menos conscientes ou querem ver-se livres das crianças ou optam pela escola normal para se esconderem de si próprios e, aí, ficam numa situação de achar que... Em verdade, é o exercício da "acheologia" de qualquer anormal! Eis porque a presença de profissionais do Ensino Especial é de extrema importância na sensibilização/educação desses pais. Um dono de escola, preocupado em ganhar dinheiro, jamais irá desempenhar aquele papel social...

Em Cotia, e o digo sem precisar cair no puxa-saquismo da ignorância comum e porque não preciso..., uma das pessoas que mais se interessou por esta questão foi e é o empresário ruralista e prefeito Mário Ribeiro, mas, que envolvido pelas tramóias da politicagem e dos favores nem sempre observa o princípio de que a Educação Especial deve ser ministrada por um Professorado Especializado a Nível Superior - ora, "tio" e "tia" de primeiras letras não servem para isto! A assessora Teresa Acetuno é que não conhece esta regra básica, o que é notoriamente público... Talvez que Mário Ribeiro, com apoio do assessor Luiz António, da Saúde, possa melhorar o atendimento neste caso. É que em Cotia faz falta uma Comissão de Educação Especial, formada por profissionais, coisa que a eternamente obscura "Comissão de Educação da Vereança" desconhece. Será que veremos um dia os Vereadores tomarem posição pública sobre o que é e como se processa a Municipalização do Ensino, na qual encaixa-se, também, o Ensino Especial?

É interessante (a)notar como a sociedade só se interessa por estes assuntos quando algo vai mal. Pior: o Ensino Especial está mal, no Brasil, porque a sociedade pensa que é um tipo de escolaridade a ser encarada como esmola. Agora, com menos de dois anos para adequar profissionalmente o Ensino Especial, as instituições oficiais e privadas têm de encarar eticamente o assunto. Ou será que os favores de Vereadores ou de Prefeitos ainda vão decidir...?!

Comissão de Educação e Cultura

A Vereança Em Questão

 

Poucos munícipes saibem da existência da Comissão de Educação e Cultura (às vezes com outras denominações) que a cada legislatura (ou a cada mandato) se instala na Câmara Municipal. Sim, os munícipes sabem que a Vereança tem como Missão representar os interesses dos Eleitores e de Fiscalizar os Atos do Prefeito e suas Assessorias, mas não têm conhecimento das Verbas destinadas, por Lei, ao custeio dos atos da Vereança. Pois é, a Vereança é paga através do Erário Público e as suas Comissões Setoriais raramente prestam contas publicamente. Mas isto é um caso geral. O que nos interesse, agora, é saber o que é e como deve funcionar a Comissão de Educação e Cultura (CEC)...

Toda a legislação que envolve o Ensino Municipal e os acordos entre Estado, Município e União, assim como intercâmbio técnico-pedagógico entre o Ensino Municipal e o Privado, além das atividades de Cultura propriamente dita, deve ser objeto de pesquisa e estudo da Comissão de Educação e Cultura - e, aqui, os Vereadores devem buscar assessorias especializadas para poderem operar adequadamente. Paralelamente, a CEC deve proporcionar a realização de seminários temáticos convidando a população interessada, como no caso do Professorado Municipal, associações de bairro, associações de pais, alunos e mestres, sindicatos, etc.

Se é raro o munícipe conhecer o funcionamento e as articulações político-legislativas que fazem o universo operacional de uma Câmara Municipal, mais raro é ter acesso às Comissões Temáticas e, com muita excepção, conhecer uma Comissão de Educação e Cultura...!

Por que isto acontece? Porque a Vereança lida estrategicamente com o Poder municipal, a base de toda a correlação das forças nacionais - ora, no caso do Brasil, mais da metade da Vereança instalada é semi-analfabeta, políticos sem tradição ideologicamente partidária. Portanto, gente destinada a "estar no Poder" como que ocupando um "cargo" geralmente bem pago. Diante deste perfil encontra-se a razão que leva à inoperância de uma Comissão de Educação e Cultura.

Os munícipes mais conscientes do dever da Cidadania podem questionar: "- E daí, eles foram eleitos para trabalhar ou não?" A isto pode-se responder questionando, assim: "- Eles foram escolhidos ou eles escolheram-se?!"

Conscientes desta situação vamos ao assunto: uma CEC deverá funcionar instalando-se com uma equipe de profissionais que lhe assegurem a vivência no trato da Educação e da Cultura, é para isso que o Legislativo recebe do Executivo uma Verba de Custeio. Mas, é hábito o Vereador contratar cabos eleitorais (oficial e fastamagoricamente) em vez de proporcionar uma ligação ético-política entre a Vereança e a População. As razões são conhecidas de todos e, uma delas, está naquela frase "- Eles foram escolhidos ou eles escolheram-se?!" Por isso, dificilmente vemos uma CEC manifestar-se publicamente sobre a problemática educacional e cultural do município e, muito menos, envolver-se em casos relacionados ao Ato Cultural ou ao Ato Pedagógico. Como pode uma Vereança estudar um caso típico educacional como o dos "25% da Arrecadação Municipal destinam-se à Educação" se a sua CEC não manifesta a própria existência nem tampouco questiona as diretrizes dos diretores de Educação e de Cultura instalados pelo Executivo...

Levanto esta questão depois de muitas perguntas sobre o assunto que me chegaram no bojo de outra questão: o Ensino Especial. Também ele obrigatoriamente objeto de estudos para uma Comissão de Educação e Cultura da Vereança. Por outro lado, muitas pessoas opinam sobre a situação mas não se expressam publicamente. Saiba-se: enquanto os munícipes não se utilizarem da Imprensa Regional para dizerem que existem e solicitarem explicações públicas sobre, por ex., uma CEC, é óbvio que a Vereança vai continuar escondendo as próprias deficiências político-legislativas! Aqui fica o alerta...

"Burrices Múltiplas"

 

 

Escrever sobre Educação e Cultura exige do articulista, quando se trata de Imprensa, ou do escritor, quando se trata de Livro, conhecimentos básicos e uma práxis mínina. Recordando as "burrices múltiplas", uma máxima inventada por Gilberto Dimenstein, e que me lembra "os intelectuais fomentam a Ignorância quando não se assumem comunitariamente" - proferida por mim na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, e da qual poucos gosta(ra)m!... -, e adiante, o universo escolar está minado por uma rede político-social que não poucas vezes usurpa os cargos que devem ser ocupados pelo Professorado Com Práxis Pedagógica. Esta "burrice" faz disseminar a incompetência que, por vez, trata de assuntos pedagógicos com a mesma ignorância com que defende o "carro nacional" - eis, aqui, um exemplo (infelizmente triunfal, no Brasil) da máxima "burrices múltiplas"!

É muito (mas muito) raro sentir a ação intelectual de um(a) Romancista, de um(a) Professor(a), de um(a) Cineasta, de um(a) Poeta, etc, etc, no âmbito da ação comunitária que leva à Cidadania plena - e, aqui, lembro que são raros, também!, aqueles e aquelas que vivem do Jornalismo vivenciarem essa ação comunitária. Quando algum(a) Intelectual leva à letra o que diz e sente e imprime tudo isso na Imprensa Regional, ôpa!..., ficamos sabendo que Cidadania é "coisa" de cidade grande, que Educação com Professorado competente é "coisa" de cidade grande, que Cultura sem festa-de-peão é "coisa" de cidade grande, que... Realmente, diante desta perspectiva a Intelectualidade prefere um bom churrasco a "incomodar-se" com a Ignorância que a rodeia no bairro. Mas, também é por causa deste alheamento que as "burrices múltiplas" têm embasamento. Ou não? Se toda a Intelectualidade prefere estar e ser longe da problemática político-social da sua região residencial - e nem todos vivem em condomínios de luxo -, então, para que servem as bonitas teses de doutoramento, os livros de "ensino" e as campanhas pró "cidadania"?

Será que o fato de a Imprensa Regional não poder oferecer compensação financeira leva a Intelectualidade a se desinteressar de nela participar? Já ouvi de alguns essa justificativa, mas da maioria sei que é desinteresse mesmo, ou porque não gosta do prefeito, ou porque um vereador é semi-analfabeto, etc, etc. Será que um prefeito escolhe uma "tiazinha" para dirigir o Depto da Cultura, outra para o Depto da Educação e outra para supervisionar a Educação Especial, por que sabe o que faz? Será que a Comissão de Educação e Cultura da Vereança não funciona de portas abertas por que os vereadores raramente são suficientemente alfabetizados e não sabem escolher assessorias? Não. É que a Imprensa Regional raramente tem embasamento para criticar tal situação de absurdos. De tudo isto, retiro uma só lição: a Intelectualidade não ativa comunitariamente é tão culpada pela Ignorância quanto a práxis anti-pedagógica dos governantes a todos os níveis!

Quando um jornalista culturalmente ativo como Gilberto Dimenstein expõe uma máxima como "burrices múltiplas" não está brincando de intelectual, mas a maioria dos intelectuais lê isso com um sorriso nos olhos. Entretanto, esquecem que tal máxima não é defesa da Intelectualidade Não-Ativa Comunitariamente. Por que raramente vemos professores e professoras comprando livros? É só por falta de salários razoáveis? Não. É por falta de uma Escola que ensine alguem a ser e a estar na sociedade como Professor(a). Na verdade, a Intelectualidade prefere o risco socialmente curricular à ação direta pelo desenvolvimento da Sociedade!...

 

Uma Experiência Com "Outras" Crianças

Ensino Especial Em Questão

 

 

"...a simples colocação física

da criança com necessidades

educativas especiais na classe

regular não é (...) garantia de

sucesso escolar"

 

Luis de Miranda Correia

(in Alunos Com Necessidades Educativas

Especiais Nas Classes Regulares, 1997) 

A minha primeira experiência com crianças portadoras de deficiência motora e/ou mental aconteceu am 1972, em Vigo (Galiza, Esp.), durante um "Encontro Minho-Galaico" de jovens poetas e artistas antifascistas- e, no mesmo ano, em visita política a Bilbao (País Basco, Esp.): naquele encontro (cultural) e naquela visita (a refugiados políticos portugueses, africanos e brasileiros) encontrei pais (3 casais, primeiro; 4 casais, depois) que já providenciavam pesquisas psico-pedagógicas para os filhos nascidos com deficiências.

Observando as crianças compreendi algo que uma das minhas professoras de primeiras letras mencionou certa vez, referindo-se a dois camaradas de turma: "não é possível que vocês possam desenvolver-se como o resto da turma normal, têm de ser alunos de uma turma especial". Até hoje consigo ver e ouvir essa excelente pedagoga (de Aveiro, Port.), e as suas palavras, na verdade uma sentença, ecoaram durante anos e anos na minha mente. Mais tarde escrevi um conto intitulado "O Menino Inadaptado" (Prêmio Rotary, Port.-1973), mas ainda sem entender perfeitamente o "caso". Só depois daquela viagem à Galiza e ao País Basco é que percebi o desespero de muitos pais nas regiões de Braga e de Vila Real (norte e nordeste de Portugal); em 1972 não existia (e o regime fascista salazarista-caetanista também não o permitiria) um Ensino Especial Para Crianças Inadaptadas - i.e., portadores de alguma deficiência que as impedia de viver como e com as outras crianças. Só depois do Golpe d’Estado de 25 de Abril de 1974 foram criadas comissões comunitárias e pedagógicas orientadoras da formação das Cooperativas Educacionais Para Reabilitação de Crianças Inadaptadas (CERCI’s). Participei de uma das comissões (em Braga e Guimarães, Port.) buscando recursos de informação científico-pedagógicas na Suécia e na Suiça; paralelamente, participei de encontros sobre o assunto que especializa(va)m a s Comunidades interessadas. É que, como diz Vitor da Fonseca (in Educação Especial, 1995), "(...) Toda a criança pode aprender. Nenhuma criança é ineducável. Para muitos indivíduos, mudar o potencial das crianças deficientes é uma tarefa fútil e impossível, sem compreenderem que a deficiência é quase sempre imposta pela sociedade, isto é, pelo seu estado de desenvolvimento científico-social". E é verdade. Por exemplo: nos países de temperaturas de amena para gelada (casos de Espanha, Portugal, Rússia, França, Itália, etc) existia (na Rússia ainda continua...) de um "café-da-manhã forte". Forte?, podem perguntar. Sim, uma tijela de vinho tinto e broa (pão) - uma "sopa de vinho"!... Esta "sopa de vinho" gera um efeito negativo na mente e no físico da criança a longo-prazo de 3 a 5 anos, mas na de 1 ano, o efeito é imediato. Isto é somente um exemplo entre muitos outros. Pois, foi modificando este e outros hábitos rurais que as comissões comunitárias e psico-pedagógicas alteraram o curso da história e implantaram as instituições de apoio a crianças inadaptadas (é um erro chamá-las de "excepcionais"). Veja-se, assim, que é a Sociedade que gera as suas deficiências: nós somos a circunstância que produzimos.

Sobre esta experiência com as "outras" crianças fiz palestra para o grupo To Educate (London, GB. 1976) afirmando que "(...) o Ser-cidadão torna-se mais humano no contato com as circunstâncias comunitárias que o rodeiam. No caso das Crianças Inadaptadas geradas pelo comportamento social inadequado (na maioria dos casos os fatores genéticos que levam à deformação têm fonte em má alimentação e vícios dos pais), é preciso que o Ser-cidadão entenda o ‘núcleo fraternal que sustenta o socialmente viável’, e não pode agir mistificando como quem faz uma caridade: o Ser-cidadão o é na razão direta de estar e ser Comunidade, inversamente, ele não o é porque personifica a ignorância. Da minha experiência como Militante Cultural atuando nas jornadas de apoio e desenvolvimento para a Alfabetização de Adultos e para a Educação de Crianças Inadaptadas, ganhei mais conhecimentos, tornei-me mais Cidadão!"

Nunca mais parei meus estudos sobre o Ensino Especial (participando de muitos encontros educativos com especialistas), apesar de ganhar a vida como Escritor e Jornalista, e isso deu-me a possibilidade de exercer o Jornalismo Cultural e Educativo com conhecimento de causa.

Quando defronto-me com diretores não-especializados supervisionando Ensino Especial, lembro que o Congresso dos EUA, em 1990, mudou para melhor a sua Public Law 94-142 (de 1975) impedindo que a Educação seja tratada como um saco-de-gatos-virtualmente-mortos, também, que a Declaração de Salamanca (Esp., 1994), saída da "Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade", trata deste assunto que diz respeito à Cidadania no âmbito também do Professorado. Pena que os burocratas dos ministérios da tutela, quase sempre filhotes do mercado ideológico-partidário!, não têm práxis pedagógica...

 

  

 

IMPRENSA REGIONAL

Cidadania com Educação

 

 

Vivemos o dia a dia de um município contabilizando as possibilidades de progresso social através de segmentos de atuação pública como a Educação e a Cultura e, no geral, contando com os parcos recursos da Imprensa Regional.

Em regiões como Cotia, com história própria mas mal tratada por situar-se muito próximo de uma metrópole como São Paulo, a Imprensa raramente ocupa-se do processo social embasado na Educação culturalmente assumida e, quando o faz, ou atua sob textos oficiais que dizem o óbvio, ou publica opiniões de profissionais balizados numa práxis pedagógica que não admite a omissão da especialidade de quem dirige os departamentos da Educação e da Cultura. Jornais como Gazeta de Cotia, Jornal Revista FM e O Raposo, vêm, de algum modo, atraindo a atenção dos cotianos para o processo educacional, quer normal quer especial, e ajudando a descobrir as razões que levam a uma certa obscuridade nesse segmento.

Gazeta de Cotia publicou textos reclamando da falta de cursos de atualização destinados ao Ensino Especial e, agora, chegou às mãos do Professorado um plano de cursos para 1999, da Assessoria da Educação, contemplando esse setor. Interessante. Muito interessante. Eis que a Imprensa Regional funciona!... E cabe, aqui, questionar a assessora Tereza Acetuno: por que o plano de cursos para 1999 não indica nem os temas nem os palestrantes, quer para o Ensino Especial quer para os outros setores? Também, por que os cursos foram planejados para acontecerem durante a carga horária do Professorado e não fora dela? É que, e a Imprensa vai continuar atenta, se a lista foi elaborada para "tapar buraco" não contemplando curso de ação pedagógica e sim palestra, aí o Professorado vai continuar sem a opção profissional da atualização sob orientação de pedagogos especializados. Como se sabe, palestra é uma coisa e curso é outra. Isto recorda-nos a conversa que tivemos com dois sindicalistas (Embu, 3 e 4 de Fevereiro) sobre a pressa de assessorias, como a de Cotia, em "encher salas-d’aula" sem preocupação com a qualidade pedagógica. "Como se pode exigir boa escolaridade com uma frequência de 32 a 38 crianças por sala-d’aula e, ainda, afirmar que se tem ensino de alto nível? É como querer que a convivência de uma criança de 5 anos incompletos tenha a mesma capacidade de integração de uma outra, na mesma sala, com 6 anos. Saiba-se: uma chora e outra brinca, enquanto a professora vira babá e pedagoga", como disse um deles corroborando a frase do outro: "A convivência de crianças com idades diferentes (meses, neste caso, fazem uma grande diferênça!) no aprendizado das primeiras letras vira um rolo compressor psicológico com o qual a maioria do Professorado, nessa circunstância, não sabe como lidar!" Pergunta-se (e até para comparar com o que ouvimos): quantas emei’s estão nesta situação em Cotia? "Quem deveria estar atenta a estas questões é a Comissão de Educação da Câmara, em todos os municípios e com a ajuda dos jornais locais", como afirmou Isabel Ferraz, de Sorocaba, rematando as palavras de Mário e de Milton.

Quando escreve sobre instituições como APAE, de uma modo geral, ou o CEIC, no caso específico de Cotia, a Imprensa Regional assume o seu papel mediador pela qualidade do Ensino Especial, não no que respeita aos cargos técnicos (psicologia, fonoaudiologia, etc, que só podem ser ocupados por pessoas formadas) mas aos cargos da Atuação Pedagógica, tantas vezes ocupados por pessoas sem especialização, como acontece, precisamente, em Cotia! Este tipo de situação, que deveria ser de interesse em primeira instância para a Comissão de Educação da Vereança, exige um comprometimento público da Imprensa Regional. Faz 20 anos que Gazeta de Cotia está na praça, faz 20 anos que Gazeta de Cotia luta pelos interesses gerais do Povo cotiano. Só não aceita uma Imprensa Regional ativa quem é contra os interesses gerais e a favor dos interesses particulares: Gazeta de Cotia pertence aos gerais!

Quando a Imprensa Regional questiona o Poder Público Municipal é um "Ai Jesus!...", esquecem os políticos regionais e seus assessores que, quando fazem leis locais, têm de aprender a respeitá-las. E que, no processo educacional, essas leis jogam com a cotidianeidade do Povo e do Professorado Municipal. É por isso que quando a Assessoria de Educação, de Cotia, envia comunicado oficial aos jornais esse comunicado nunca chega à redação de Gazeta de Cotia. É que vai ser questionado tal como os outros...

Cidadania é uma palavra bonita quando não balizada no questionamento da Sociedade e suas partes ativas, Gazeta de Cotia sempre optou editorialmente pela Cidadania Vivenciada e questões como Ecologia, Educação e Cultura estão na "formulação" do jornal! (João Barcellos - escritor e consultor cultural; www.cotianet.com.br/joao_barcellos e e-mail:jb@cotianet.com.br)

 

Ensino Especial Tem De Ser Dirigido Por Especialistas

por Marc Cédron

 

 

Foi com satisfação que li os artigos do escritor e conferencista João Barcellos, publicados nos jornais "Revista", de Granja Viana, "O Raposo" e "Gazeta de Cotia", nos quais expôs a situação calamitosa do Ensino Público, em geral, e do Ensino Especial, em particular.

Servi-me dos textos (e de outros, da página http://www.cotianet.com.br/joao_barcellos) do Mestre João para as duas últimas conferências, que proferi nas cidades de Liverpool e de Paris, sobre "Dificuldades Escolares Com Deficientes Motores e Mentais" enfocando alguns dos erros que os sul-americanos continuam sem corrigir, como no caso de darem cargos pedagógicos e de direção no Ensino Especial para correlegionários políticos e professores da rede normal, ou ainda, pôr pessoas sem vínculo e experiência à frente de departamentos de Cultura. Mexer com estes assuntos é mexer com a vaidade primária e a mentalidade fascista que ainda fomenta muitos "coronéis" na Educação e na Política brasileira. No entanto, já é tempo de mudança. Intelectuais e conferencistas como João Barcellos são obstáculos para tais "coronéis" que não têm armas para combaterem o Pensamento livre e culto.

Particularmente, chamou-me a atenção entre os vários artigos, aquele "Piaget tem de ser adequado e não copiado". Que pena o estado lastimoso em que se encontra a Educação no doce e maravilhoso Brasil... O trabalho do "Grupo Granja" (Tereza, Joane e João) é excelente na denúncia destes casos na Imprensa e na Internet. Como é possível que pessoas que afirmam-se "professores" declarem que "Piaget é bom para a Suiça, não para o Brasil"! Uma brincadeira de mau gosto. Da mesma maneira que nós, na Europa, adaptamos o Método Paulo Freire aos europeus, o Brasil deve adaptar o Método Piaget aos brasileiros. E nesta particularidade, algo que me chamou ainda mais a atenção: as instituições que tratam do Ensino Especial com Crianças Deficientes (no Brasil: "Excepcionais") são tidas, na maioria dos casos, como "de caridade", por isso, não buscam recursos para terem pedagogos especializados e serem independentes dos poderes públicos. Talvez conheçam alguma excepção nesta regra... Na realidade, creio que no Brasil denominam-se "apae", essas instituições vivem sob a alçada ideológico-financeira do poder municipal. Um erro político de administração escolar e um erro pedagógico.

Meu amigo João Barcellos (o Mestre João) tem razão: combater esta situação é dar batalha aberta aos que fazem da Educação um palco eleitoreiro de lesa-Pedagogia. É claro que a Verdade cria inimigos, mas é uma luta que glorifica o Pensamento. O Brasil só será uma Nação respeitada quando os seus intelectuais levantarem a bandeira "Educação ou Dependência"! Janeiro de 1998, Viena-Áustria (*Marc Cédron - ecólogo e psiquiatra)