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Floresta de Morro Grande
poesia e prosa poética de joão barcellos
UM POEMA NA FLORESTA
sob o azul que nos é teto a Vida enche-nos a Alma in natura mas eis que a fartura gera a cobiça e incendeia a Alma de muitos sem Verbo
aqui ainda respiro in natura mas Cepellos já alertou n A Derrubada que o Morro Grande não seria tanto mas ainda é fartura que vivo pelo que manimo por uma mental abertura por uma batalha de gestos e tanto até acabarmos com a derrubada que recusa a Vida como abrigo
falta o amoroso Verbo aos que bestializam a Alma pelo Poder da pseudo fartura eis que in natura é a Vida manancial dAlma sob o azul que nos é teto
Vargem Grande Paulista/SP, Jan. 2000
FLORESTA NO OESTE PAULISTANO
um dia falaram-me da Floresta que alimenta os olhos-dágua nas bandas de Cotia e de Vargem Grande Paulista e fui lá para saber das razões muitas que levaram cotianos e vargengrandenses e paulistanos a não permitirem a instalação de um aeroporto metropolitano em pleno Morro Grande
e fiquei perplexo
tão perplexo como o psiquiatra e ecólogo Marc Cédron dez anos depois ou como pouco antes a artista Tereza de Oliveira e a física Joane dAlmeida y Piñon e antes de todos nós o fotojornalista Mário Castro e o jornalista Valdemar Paioli e a turma do físico Mário Schenberg com o poeta português Sidônio Muralha e o ecologista José Lutzenberger e o geólogo Aziz AbSáber e muitos outros brasileiros que não queriam nem as usinas nucleares nem a devastação da hiléia tropical até chegarmos à nova geração de Ecologia Humana culturalmente assumida por gente como a jornalista Cristina Oca e o fotógrafo Afonso Roperto
e então tão perplexo fiquei que entendi definitivamente o poema A Derrubada do brasileiro Baptista Cepellos que nasceu sob o som cristalino das águas puras de Morro Grande ah sim e adiante um poema que li nos Anos Setenta num encontro minho-galaico em Santiago de Compostela e eis que a Vida é um giro alquimicamente cósmico que nos leva ao Saber por caminhos que nem as estrelas sabem anunciar aos pobres humanóides (que me perdoe o Schenberg esta heresia física)
mesmo antes de pensarem em pesquisar para preservarem a fauna e a flora da Floresta de Morro Grande os interesses públicos e privados constataram que o sítio era ótimo para pouso e decolagem daeronaves e pronto
nem olharam em redor são de mais mas menos vivos do que imaginam que ao redor poderiam ter aprendido com a cutia a sentar e perceber que a vida é uma constante onda damor
a ruptura com a vida é a derrubada do amor
e pronto mas esses poderes públicos e privados de interesses que desconhecem a Terra que nos é chão e berço não contaram com a rebeldia e o Saber de poetas e artistas e jornalistas e ecologistas e cientistas e pimba tais poderes burocráticos e militares e financistas foram obrigados a recuar nos seus intentos contra a Natureza
e logo a Floresta de Morro Grande virou Reserva já não seria pouso daeronaves só Natureza
parece um conto de era uma vez um grupelho de malvados políticos mas é a verdade crua e nua
coisa tão perplexa
e aí veio A Selva não o romance do Ferreira de Castro sobre a estúpida exploração neocolonial da borracha na Amazônia mas um iniciático percurso ecológico e social com a Cris e o Afonso reabrindo a questão e a história
sim que a coisa é tão mais perplexa quanto a Cooperativa Agrícola Cotia que o foi mas deixou entre os olhos-dágua cotianos e vargengrandenses uma agricultura sustentável na engenhosidade do povo nipônico
por olhos-dágua se diz do povo da floresta com os burros nágua se diz de quem não presta
e aquele povo que veio lá do Oriente fez e recria a Vida por aqui como jamais sonhou o poeta Cepellos que desta viçosa floresta vislumbrou a odisséia paulistana que fez o Brasil uma ponte tropical do Ocidente
e pronto
espero que tenham entendido a minha tamanha perplexidade ao respirar in natura a cósmica essência da floresta que visitei no Morro Grande
(João Barcellos - jb@cotianet.com.br = www.cotianet.com.br/joao_barcellos)
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