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            Sobre o carro 
            Um carro de madeira, movido a 
              boi. 
               O que se vê ainda hoje em alguns 
              lugares, os protótipos, tem como matéria prima mais 
              comum o cedrinho e a canela branca.  
              Os carros de boi de antigamente eram de 
              cabreúva (principalmente as rodas), jacarandá ou jatobá. 
               
              
             
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             Seo Emídio Rodrigues da Silveira. 
              Ituano. Deve ter mais de oitenta anos, rijo e forte, caprichoso 
              com a madeira como ele só, fez o belíssimo telhado 
              de nossa casa, e aí descobrimos a arte dele de construir 
              carros de boi. Quis complementar a estória de nosso livro 
              sobre romaria, contando o carro de boi que aparece em nosso livro 
              é o dele, só que com pessoas que posavam na frente 
              emprestado. Hoje faz alguns carros de boi em miniatura, maravilhosos, 
              puxando uma carga de madeira, o barril de pinga, ou talvez uma partida 
              grande de milho. Está há cinqüenta e um anos 
              em Caucaia. Tem lembranças da infância ituense, com 
              as cargas sendo transportadas à noite por causa dos fiscais, 
              e o pai chegando na madrugada com aquele movimento das tropas. O 
              amor à madeira, esse vem desde o avô, José Alferes 
              da Silveira, um artista da madeira. Seo Emídio conta que 
              o pai aprendeu o ofício e ele e outros irmãos também. 
              Na época da guerra, seo Emídio puxou, com mais um 
              irmão, os postes de telefone de Itu para Cabreúva. 
              O sertão foi sendo desbravado com a força das juntas 
              de boi, que iam e vinham em seu ritmo, que é outro modo de 
              contar o tempo. Viagens eram demoradas, as paradas idem, o destino 
              era sempre muito mais longe que nos parecem nos tempo atuais. Mas 
              esses homens e suas maravilhosas engenhocas primitivas, conduziam 
              não apenas a si próprios, mas cargas que faziam a 
              riqueza e alegria dos lugarejos. 
              Seo Emídio contou que já teve parelhas que puxaram 
              dois mil e poucos quilos. Uma junta são dois bois e seo Emídio 
              já trabalhou com doze juntas. 
              Se Deus permitir, seo Emídio quer ainda partir à Romaria 
              com seu carro de boi. Participou já com 3 ou 4 carros de 
              boi um dia, com 4 ou 6 juntas de bois, mais ou menos em 1958. Parou, 
              recomeçou em 74 e parou de novo. 
              
              
            
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             Fotos do acervo particular de 
              Seo Emídio 
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